domingo, 15 de maio de 2016

JC Anjos encontra um dos pais do V de Vingança em fim de expediente de uma segunda-feira melancólica! (E porque a Palavra “Ilustrador” me incomoda tanto).


A postagem abaixo se refere a ultima palestra do “ilustrador”* David Lloyd da obra V de Vingança. Ocasionada no ultimo dia 9 de Maio em uma livraria em Botafogo. 

Aqui pretendo registrar minhas impressões e falar um pouco desse grande artista que contribuiu e muito para a nona arte não só pelo simples fato de ter chamado para o seu projeto (que na época era uma encomenda de uma editora independente antes de ir para a Vertigo Comics) nada mais nada menos que o aparente pirado Alan Moore, mas que também, seus traços e concepções, partindo de sua pena,  David, não somente criou o personagem Guy Fawkes (personagem caricaturado de em um vulto histórico), como gerou um poderoso ícone que inspirou protestos e insatisfações politicas nos últimos anos tomado de empréstimo. Acompanhe.


Encontrar um dos diversos pais de meus inúmeros deuses não acontece todo dia. E foi graças ao meu amigo Otto K., que me tirou da minha catalepsia social, que pude ter um fim de dia de uma segunda-feira melancólica em um memorável dia. 

Um desses pais na qual me refiro é David Lloyd, que, assim como Alan Moore, conceberam V de Vingança, cuja obra já rendeu um filme em 2005, estigmatizou uma das maiores facetas da nossa contemporaneidade: a máscara de Guy Fawkes cuja força iconográfica inspirou os últimos protestos em todo o Brasil inclusive no período da copa do mundo que foi sediada aqui. Em que a metáfora da revolução de um único rosto (e paradoxalmente sem ele) e televisionada nunca antes experimentada sensivelmente por diversos movimentos sociais e populares. A essência do livro gráfico tratarei aqui em outra postagem. 

Isto tudo até agora dito é só para aqueles leitores que até então não sabiam de onde vieram “àquelas” mascaras dos protestos. Ecce homo.

Mas antes de ser este poderoso ídolo que diante de mim exigia minha total atenção e devoção, David Lloyd é gente finíssima, atencioso e educadíssimo. Um gentleman. Talvez bem diferente da minha ideia de um Alan Moore soturno, megalômano e que jamais abandona a torre de marfim que é a sua britânica ilha para falar com nós, meros mortais. David é demasiado humano. É dado a falhar embora nossa devoção não nos permita perceber. Ele te olha nos olhos ao responder tua pergunta mesmo que
as perguntas precisem ser traduzidas. Transladas para seu idioma (com mediação de Carlos Patati, um dos roteiristas da clássica e extinta revista Spektro de 1979 e pesquisador de historia das histórias em quadrinhos). Lloyd tenta se aproximar ao máximo de nós. É um cara equilibrado, sóbrio em seus comentários e extremamente ético quando fala de seus colegas. Longe do pedantismo justificado de seus colegas britânicos que dominaram com maestria o mercado norte americano da nona arte e com toda a competência. Estar diante dele é, de alguma forma, estar diante de tantos outros como StanLee, Grant Morrison e o próprio Alan que cada um a sua maneira povoou nossos sonhos de uma vida toda com uma gama de mitos. Defende e divulga as webcomics ( Em especial seus novos projetos cujo site chama-se Aces Weely) como tendências inevitáveis que culminarão com o fim do impresso (salvando milhares de árvores) e o fim burocrático de editoras e distribuidoras do mundo físico.


Chegada a hora dos autógrafos, estávamos Otto e eu com um número recém-comprado na mesma loja onde estava ocorrendo à palestra. Uma longa fila cheia de gente que assim como eu passou a adolescência do final dos anos 1980 e inicio dos 1990 sendo ridicularizados por garotas que desprezavam caras que liam “gibis” e garotas que devem ter sofrido duras criticas pelos seus pais porque liam “estas coisas de meninos”. Havia uma cumplicidade silenciosa. Àqueles que não tinham companhias como meu mano Otto ao meu lado, era ajudado por pessoas como eu e tantas outras na hora de tirar foto com o ídolo. Não havia pedidos verbalizados. Os gestos solidários diziam tudo. 

É chegada, finalmente, a minha vez.



Chegada a hora de meu encontro com Lloyd à coisa não deixou de ser singular:
  David Lloyd: Angel, anh?!
JC Anjos: Yeah, man! Angel!!!!

Ele entendeu a mensagem:
David: Ok, Jôta-cí-Ãnjous!!!!

JC: Pictures?!
David: Sure!
E depois de uma ultima foto com meu ídolo, em seguida uma foto com meu amigo Otto, a noite chegou ao fim. Hora de retornar para nossas vidas e duras realidades.




*Antes de encerrar esta postagem eu gostaria de dizer que a razão de eu ter usado as aspas na palavra ilustrador é porque atualmente eu estou a repensar este termo aos artistas de histórias em quadrinhos, que mais do que nunca, precisam sair desse estigma de meros ilustradores. O ilustrador, a meu ver, completa a escrita. Claro que aqui há também um trabalho de criação. Mas acho que na linguagem das HQs esta concepção é mais ampla. Envolvem sequências e mais sequências, sonoridades, movimentos que não só complementam a escrita como as ultrapassam. Porque se pensarmos em um roteiro só de gestos, estes gestos só serão representados no campo imagético. O que escapa e muito do mero conceito de ilustrador. Precisamos refletir muito sobre isto.

  Agora sim posso pegar o ônibus de volta pra casa...

Fotos por Otto K.
Fontes para links: Wikipedia e Aces Weekly





JC Anjos & Otto K.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Insólita Família Titã



É uma excelente HQ nacional escrita pelo roteirista Gian Danton com arte de Bené Nascimento (ou se preferirem Joe Bennett).

Joe Bennett é um desenhista brasileiro que fez uma carreira prolífica nos Estados Unidos, pois trabalhou pra maioria das editoras do Tio Sam.

Há uma introdução pra que saibamos do histórico dos artistas envolvidos neste gibi.

Confesso que a arte da capa nem se compara ao que vemos na história. Parece que foi feita no inicio de carreira de Nascimento mais a história é simplesmente fantástica.

Na trama havia três adolescentes pobres, Melissa, Paulo e o narrador que não encontrei o nome. Ele era deficiente, pois precisava de muletas pra andar. A união dos três era por causa de sua vida miserável, mas mantinham a esperança de dias melhores.

O rapaz curtia uma paixão platônica por Melissa, porém escondia seus sentimentos dela. E por isso mergulhava nos livros que encontrava jogados no lixo (isso deu a ele um certo tipo de conhecimento).
Melissa queria ser atriz e até foi num teste, mas o por causa de sua magreza não conseguiu.

Certo dia entretido com sua leitura encontrou um vulto na floresta e seguindo-o foi parar numa caverna na qual havia um alienígena. Esse alien lhe revelou que devido aos seus desejos poderia tocar num disco e pedir o que quisesse.

Só que ao pensar em seus amigos deflagou algo que nunca poderia imaginar. Sua maior decepção foi ver Paulo e Melissa transando e mesmo assim revelou pros amigos o que havia presenciado.

Como crianças, tocaram no disco e proferiram a palavra mágica: Katana! Seus corpos foram transformados em deuses. E ao voltarem pra caverna encontraram uniformes e o conhecimento dos codinomes: Vésper (Melissa), Centurião (Paulo) e Tribuno (o narrador).

Vieram os atos heroicos tipo salvar avião de cair, evitar um incêndio num prédio e a fama subiu-lhes a cabeça. Vésper saiu nua numa revista, Centurião comercializou action figures da equipe, porém Tribuno estava de fora.

Algo corroía a mente de Tribuno, no entanto ele não sabia o motivo de sua insatisfação. Até descobrir uma invasão alienígena e convocar seus amigos pra defender o nosso planeta. Ao batalha foi vencida e eufóricos depois de tanto beber ambos transaram com Vésper.

Ela ficou envergonhada e Tribuno foi expulso da equipe e visto como pária por toda população. Seu ódio cresceu imensamente até que Centurião e Vésper revelaram como ganharam seus poderes, porém ao encostar no disco disseram a palavra mágica e perderam seus dons (voltando a ter uma vida comum).

Então, Tribuno resolveu se vingar e a história fica cada vez mais inquietante.

Devo comentar que não gosto de histórias em preto e branco, pois tiram toda a graça que a trama poderia nos proporcionar, no entanto o roteiro de Gian Danton me deixou de queixo caído.

Quando somos crianças pensamos em ter superpoderes e fazer feitos incríveis mais o que vemos nesta história é pra deixar qualquer um pensativo.

Justamente sentimentos como ambição e egoísmo devastam qualquer um que não tiver caráter bem definido.

Aqui há uma homenagem ao artista C.C.Beck criador do CapitãoMarvel, pois seus personagens se assemelham também com a MaryMarvel e o Capitão Marvel Jr.

A Insólita Família Titã é uma história seca, cruel e muito envolvente demonstrando como as situações podem realmente mudar a vida de uma pessoa.