terça-feira, 4 de agosto de 2015

Demolidor e Constantine: Justiças e injustiças para com os personagens da “segunda classe”.

Charlie Cox como Matt Murdock/Demolidor.
é bonito mas (ainda bem) não é conhecido.
Não vou escrever spoilers aqui, apenas minhas impressões sobre estas duas séries. Vou começar pela que eu assisti há poucos dias e, portanto está mais fresca em minha memória. Daredevil (ou demolidor para os fãs desde a arte sequencial aqui no Brasil) superou e muito o longa de 2003 (em que o personagem é interpretado pelo galã Ben Affleck).

O filme me pareceu bastante corrido. Havia uma pressa para que os ventos devessem ocorrer logo diante da possibilidade de não haver uma sequencia como de fato foi. O que por si só justifica e fica claro que personagens com menos apelo que Homem-Aranha, por exemplo, merecem que suas histórias sejam mais longas, contadas sem pressa para que o publico que nunca leu quadrinhos antes, possa conhecê-los melhor. Nessa perspectiva, séries como Daredevil e Constantine foram bem sucedidas e o fato da segunda ter sua franquia cancelada não justifica aqui dizer que foi um fracasso. Pois vou explica já, já.


Mas falando ainda do Homem-sem-medo (Demolidor interpretado por Charlie Cox. O Owen Sleater na segunda e terceira temporada de Boardwalk Empire. Outra série televisiva que trata do período da lei seca nos EUA), a série não deixa a desejar em nada do personagem dos quadrinhos. Não somente ele, mas com todos os outros personagens da trama. A começar pelo personagem titulo, podemos ver ali toda sua conflituosa relação religiosa. O sentimento de mea culpa por ter perdido o pai e questionando-se ao padre na paróquia sobre ter sido punido por deus ao ter recebido o demônio que está dentro dele (Devil no inglês também pode ser entendido como Mal). Sua raiva contida em ambígua relação em não ter que matar seus oponentes; assim como os coadjuvantes não menos complexos como o repórter atormentado e outsider atemporal Ben Urich (Vondie Curtis-Hall. Extremamente competente no papel) e o próprio Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio cuja versatilidade em aderir a diferentes papeis lhe rendeu a alcunha de The Chameleon, "O Camaleão" )  sua voz estrondosa nos faz confirmar como de fato imaginávamos a do encarnado Rei do Crime das histórias clássicas do gibi. Lobo em pele de cordeiro, sua carinha de bebê carente quando não tomado por momentos de fúria que resultam em brutais assassinatos, chega até mesmo a me conquistar e Vanessa que o diga (Uma personagem segura bem interpretada pela excelente atriz israelense Ayelet Zurer ).

Por si só o personagem Wilson “Rei do Crime” Fisk já nos fascina. Vemos que o conceito de sadismo gratuito do mal ficou para trás e este personagem em particular nos mostra uma infância perturbada cujos tão chamados valores familiares foram bem diferentes da de Mattew (ou simplesmente Matt) Murdock (alter ego do Demolidor) apesar das dificuldades bastante parecidas. Como disse acima, apesar da frieza e do controle absoluto de suas ações percebemos extremos de descontroles emocionais quando os eventos são associados ao passado.
Wilson "Rei do Crime" Fisk. Interpretação camaleônica
e passado atormentado
 como o do seu antagônico  Matt "demolidor" Murdock.


Falemos agora sobre Constantine. Outra franquia que superou o longa de 2005. Aqui a série por sua vez foi cancelada. Mas será que de fato ela não nos trouxe nada de diferente? Ah, sim, deve ser porque ela provavelmente seria uma cópia mal feita de Supernatural (aqui no Brasil, Sobrenatural, exibida pela primeira vez na Tv aberta SBT). Pura e simplesmente isso? Não creio. Porque primeiramente o que se deu foi ao contrário. Foi a série Supernatural que de fato chupou os conceitos de Hellblazer (série HQ que fazia parte do selo Vertigo lançada pela DC Comics desde os anos 1980 onde sua primeira aparição foi na revista Swamp Thing#37  em junho de 1985 catapultado pelo literalmente mago da HQ Allan More) esta série ao longa da sua história foi escrita e desenhada por caras como Jamie Delano, Grant Morrison, Garth Ennis e nada mais nada menos que o mestre dos sonhos Neil Gaiman (um time digno de seleção brasileira de 70) O que esses caras fizeram foi nos trazer à luz o mago enxerido John Constantine e então todo aquele tabu sobre magia negra onde somente alguns “iniciados” que mais queriam era comer garotinhas em seus “sabbath’s” de fundo de cemitério ou festinhas góticas foi parar nos comics acessível à todo mundo. E o melhor: ninguém precisava morrer por isso, fazer um pentagrama no chão, invocar o demônio ou ter sua igreja queimada. 

Não foi dessa vez que a mediocridade
do politicamente correto liberou Constantine
 daquilo que ele é mais peculiar: o tabagismo incurável!
Mas o que aconteceu com a série, décadas depois de ser lançada, é o fato de que os dois carinhas bonitinhos de Supernatural já faziam sucesso a várias temporadas e ninguém dava a mínima para um cara de cachaceiro e sotaque britânico arrastado (e não se enganem. O personagem da HQ é assim mesmo). Sem contar também que um tal  Keanu Reeves com sua carinha de anjinho sofrido e péssimo roteiro hollywoodiano  já tinham feio o estrago nas telas grandes.


Mas quanto a tela pequena. A série sim mandou bem com ótima atuação do ator Matt Ryan quanto ao seu personagem titulo. Seria inimaginável um ator perfeito para interpretar Constantine. Por quê? Para interpretar um personagem tão canastrão quanto o mago britânico seria preciso o ator ser tão canastrão quanto. E não estou aqui depreciando o trabalho de Ryan. Acho bem melhor os atores canastrões que àqueles que seguem religiosamente o roteiro como uma cartilha. Amo caras como Brando, Al Pacino e tantos outros desse naipe cuja história mostrou a genialidade jogando este termo às margens de interpretações sobre ser algo bom ou negativo.

Voltando a série, fico a imaginar como seria o arco de história de Hábitos perigosos (Garth Ennis. Maioresdetalhes clique aqui)Foi este o meu primeiro arco que me levou a conhecer o bruxo e que me fascinou de cara.

Ah, sim, outra coisa que eu colocaria como ponto negativo em Constantine. Por se tratar de produção norte-americana como todo o seu moralismo politicamente coreto e afetado vemos mais uma vez (a exemplo do longa metragem acima comparado) um tabagismo velado do personagem. O tempo todo vemos alusão disso quando este(John Constantine) porta um isqueiro e somente fuma muito pontualmente. Pura babaquice orotdoxa americanizada que hipocritamente nos mostra o fascinante mundo da magia negra (embora ainda um pouco alegórica), mas não consegue superar estes pormenores tabus e interdições.

Para finalizar estas séries, com sequencia ou não, já conquistaram seu espaço. Mesmo que não tenha sido de um grande publico mas e um publico fiel às HQs. Como eu por exemplo.

Matt Ryan em campanha para manter a série no ar
antes mesmo dela ser cancelada:
não por falta de carisma e canastrice (elementos que compõem o personagem John Constante)
mas por sua aparição tardia nas telas e falta de apelo "estético".
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