sábado, 25 de agosto de 2012

O (re)nascimento dos mitos na atualidade




Por JC Anjos

Edipianamente entendido ou não. A verdade é que sempre vi em meu pai, quando na infância, a imagem do Deus vivo. Um Deus, que apesar de estar ali, fisicamente próximo de mim, me parecia algo intocável. Ou no mínimo um aproximar bastante temido pela minha frágil insegurança infantil. Parece exagerado comparado a forma como muitos de meus contemporâneos, principalmente os jovens de agora, terem tido uma criação mais aberta e mais “acessível” que a minha. Mas não vou omitir aqui o que me diz respeito. E por conta disso, vejo o quanto meu pai era uma entidade olímpica que vinha de vez enquando de seu reino divino somente para me repreender ou até mesmo “me castigar” com seus punhos fechados ou “chicotes” ardentes como fogo.  Não estou reclamando aqui um trauma mal resolvido. Porque também sentia pelo meu todo poderoso pai uma forte segurança de que nada neste mundo iria me tocar. E se as coisas foram desse jeito, é que a vida causa contingências em que precisamos superar.

 Tudo isso para dizer que meu pai. Esta imagem que ele tanto impôs para mim é mesma imagem que tanto alimentamos em nossas vidas através de arquétipos sejam eles religiosos ou não. Esses arquétipos nascem dos mitos. Criaturas do nosso imaginário que foram criadas e representadas por cada civilização dentro de seu logos.  O mundo ocidental transformou boa parte de seus mitos em entidades patriarcais (vide os alguns mitos gregos).  Foi preciso a tragédia resgatar o espírito de gaia e assim tirar esses mitos de seu pedestal.

Assim vejo o que meu pai é na verdade em contrapartida daquilo que Ele representava para mim: agora um homem frágil e cheio de vícios. Vícios que todos nós carregamos por ser humanos, demasiadamente humanos.

Em escala menor os quadrinhos tiveram a mesma transição que começou na era de ouro, teve seu cume na era de bronze e hoje vemos o quanto os mitos contemporâneos estão tão próximos em divulgação e humanidade na post-bronze*.

O Super-homem (hoje, com a imposição da cultura Norte Americana. Esta que estamos consumindo agora, por exemplo, devemos usar o verbete original Superman de agora em diante) já não é tão invencível e se ele é super é porque sua grandeza o adjetiva apesar de suas fraquezas tão humanas, demasiadamente humanas.

Capitão América já não é mais o ideal presunçoso Norte Americano, mas apenas um símbolo daquilo que jamais seremos - talvez nem ele próprio, apesar de seu forte espírito de liderança e ideais que sobrepõem o próprio nacionalismo - Steve Rogers é um idealista, mas também foi um dia o Cristo crucificado quando foi envolto em uma bandeira cujas cores se desbotaram desde seu estado de animação suspensa (nossa! Ainda usam este termo, nos quadrinhos?).

Thor. Um mito clássico no sentido literário. Um mito nórdico no seu verdadeiro sentido folclórico, magistralmente resgatado para os dias de hoje por Stan Lee,  Larry Lieber, e Jack Kirby. Thor é um Deus que está há muito longe de sua época e sua civilização. Apesar de sua condição existencial se parecer bastante coma do Superman no que diz respeito de ambos pertencerem a outros mundos, outras culturas e com isso serem vistos pelos terráqueos como forasteiros (não diria tanto alienígenas), O Deus do trovão parece estar bem mais a vontade na sua condição de Deus que o próprio Superman.

Tony Stark – O Homem-de-ferro. Tão poderoso em sua armadura invencível! Fora dela, um homem inteligente e como ele propriamente diz: “um Homem a frente de seu tempo”. Porém, este “homem-de-ferro” não foi páreo para um simples copo de  whisky.

Vemos também Peter Parker: Quem de nós nunca foi o garoto que um dia seria picado por uma “aranha radiotiva”? nós fomos picados por nossa puberdade e tivemos que lhe dar com esta aceitação ao mesmo tempo em que precisávamos ser aceitos pelo mundo (no mínimo em algum grupinho no pátio da escola). Hoje, neste mundo adulto, me sinto como Hulk quando este, além de ter que lhe dar com toda a sua fraqueza e fragilidade (“Benner fracote!”), ainda é bombardeado por um mundo “que não o tolera”

Enfim, Temos uma infinidade de reinterpretações de nossos mitos que até são comparáveis com os mitos de outras épocas, mas que me limito apenas e analisar os nossos que são tão nossos. E não se enganem. Apenas citei pequenos fragmentos de um universo tão complexo e interligado ao nosso como é o mundo dos quadrinhos. Confesso que não tenho mais o mesmo hábito que tinha de anos atrás. Mas isso não me desmerece como fã de HQs. pelo contrário. Cada vez mais eles fazem parte de meu imaginário. São meus arquétipos. Sem eles perco minha referencia de parte do que fui. E isso é só começo leitor. Esta nascendo aqui uma nova forma de falar de quadrinhos.



* Achei melhor improvisar este termo enquanto não se inventam um termo para esta épcoca em que os quadrinhos tomaram de assalto de vez as telas de cinema.
frase sempre usada pelo Hulk nas HQs
frase citada durante todo o filme de “HulK” de Ang Lee. Principalmente pelo “pai” de Bruce Benner. Personagem criado especialmente para o filme e interpretado pelo “trágico” Nick Nolte (isso é um elogio na falta de palavras para elogiar este grande ator)

Um comentário:

  1. Nosso blog agora ganha uma direção. Textos nossos sendo postados. Não importa se vamos escrever "bem" ou "mal". A priori é provocar, questionar, imaginar possibilidades.
    O seu belo texto é exemplo disso JC Anjos.

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