A postagem abaixo se refere a
ultima palestra do “ilustrador”* David
Lloyd da obra V de Vingança. Ocasionada
no ultimo dia 9 de Maio em uma livraria em Botafogo.
Aqui pretendo registrar
minhas impressões e falar um pouco desse grande artista que contribuiu e muito para
a nona arte não só pelo simples fato de ter chamado para o seu projeto (que na época
era uma encomenda de uma editora independente antes de ir para a Vertigo Comics) nada mais nada menos que o aparente pirado Alan Moore, mas que também,
seus traços e concepções, partindo de sua pena,
David, não somente criou o personagem Guy Fawkes (personagem caricaturado de em um vulto histórico), como gerou um poderoso ícone que inspirou protestos e
insatisfações politicas nos últimos anos tomado de empréstimo. Acompanhe.
Encontrar um dos diversos pais de
meus inúmeros deuses não acontece todo dia. E foi graças ao meu amigo Otto K., que me tirou da minha
catalepsia social, que pude ter um fim de dia de uma segunda-feira melancólica
em um memorável dia.
Um desses pais na qual me refiro
é David Lloyd, que, assim como Alan Moore, conceberam V de Vingança, cuja obra já rendeu um filme em 2005,
estigmatizou uma das maiores facetas da nossa contemporaneidade: a máscara de Guy Fawkes cuja força iconográfica inspirou os últimos
protestos em todo o Brasil inclusive no período da copa do mundo que foi sediada
aqui. Em que a metáfora da revolução de um único rosto (e paradoxalmente sem
ele) e televisionada nunca antes experimentada sensivelmente por diversos
movimentos sociais e populares. A essência do livro gráfico tratarei aqui em outra
postagem.
Isto tudo até agora dito é só
para aqueles leitores que até então não sabiam de onde vieram “àquelas”
mascaras dos protestos. Ecce homo.
Mas antes de ser este poderoso
ídolo que diante de mim exigia minha total atenção e devoção, David Lloyd é gente
finíssima, atencioso e educadíssimo. Um gentleman. Talvez bem diferente da
minha ideia de um Alan Moore soturno, megalômano e que jamais abandona a torre
de marfim que é a sua britânica ilha para falar com nós, meros mortais. David é
demasiado humano. É dado a falhar embora nossa devoção não nos permita perceber.
Ele te olha nos olhos ao responder tua pergunta mesmo que
as perguntas precisem
ser traduzidas. Transladas para seu idioma (com mediação de Carlos Patati, um dos roteiristas da
clássica e extinta revista Spektro
de 1979 e pesquisador de historia das histórias em quadrinhos). Lloyd tenta se
aproximar ao máximo de nós. É um cara equilibrado, sóbrio em seus comentários e
extremamente ético quando fala de seus colegas. Longe do pedantismo justificado
de seus colegas britânicos que dominaram com maestria o mercado norte americano
da nona arte e com toda a competência. Estar diante dele é, de alguma forma,
estar diante de tantos outros como StanLee, Grant Morrison e o próprio Alan que cada um a sua maneira povoou
nossos sonhos de uma vida toda com uma gama de mitos. Defende e divulga as webcomics ( Em especial seus novos
projetos cujo site chama-se Aces Weely)
como tendências inevitáveis que culminarão com o fim do impresso (salvando
milhares de árvores) e o fim burocrático de editoras e distribuidoras do mundo
físico.
Chegada a hora dos autógrafos, estávamos
Otto e eu com um número recém-comprado na mesma loja onde estava ocorrendo à
palestra. Uma longa fila cheia de gente que assim como eu passou a
adolescência do final dos anos 1980 e inicio dos 1990 sendo ridicularizados por
garotas que desprezavam caras que liam “gibis” e garotas que devem ter sofrido
duras criticas pelos seus pais porque liam “estas coisas de meninos”.
Havia uma cumplicidade silenciosa. Àqueles que não tinham companhias como meu
mano Otto ao meu lado, era ajudado por pessoas como eu e tantas outras na hora
de tirar foto com o ídolo. Não havia pedidos verbalizados. Os gestos solidários
diziam tudo.
É chegada, finalmente, a minha vez. |
David Lloyd: Angel, anh?!
JC Anjos: Yeah, man! Angel!!!!
Ele entendeu a
mensagem:
David: Ok,
Jôta-cí-Ãnjous!!!!
JC: Pictures?!
David: Sure!
E depois de uma ultima foto com
meu ídolo, em seguida uma foto com meu amigo Otto, a noite chegou ao fim. Hora
de retornar para nossas vidas e duras realidades.
*Antes de encerrar esta postagem
eu gostaria de dizer que a razão de eu ter usado as aspas na palavra ilustrador é porque atualmente eu estou
a repensar este termo aos artistas de histórias em quadrinhos, que mais do que
nunca, precisam sair desse estigma de meros ilustradores. O ilustrador, a meu
ver, completa a escrita. Claro que aqui há também um trabalho de criação. Mas
acho que na linguagem das HQs esta concepção é mais ampla. Envolvem sequências
e mais sequências, sonoridades, movimentos que não só complementam a escrita como as
ultrapassam. Porque se pensarmos em um roteiro só de gestos, estes gestos só
serão representados no campo imagético. O que escapa e muito do mero conceito
de ilustrador. Precisamos refletir muito sobre isto.
Agora sim posso
pegar o ônibus de volta pra casa...
Fotos por Otto K.
Fontes para links: Wikipedia e Aces Weekly
JC Anjos & Otto K. |
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